Agora é oficial
O Brasil não crescerá no mesmo ritmo da expansão do ano passado. Era de se esperar, mas desta vez a notícia é oficial. Pelo relatório trimestral de inflação do Banco Central (BC), divulgado esta semana, o cumprimento da meta estabelecida está mais longe que nunca. E este é um problema que desencadeia outros, como – o talvez principal deles – a redução na arrecadação do País.
Em 2010, o Brasil cresceu 7,5%, índice explicado pela deflação de 2009, com a crise financeira mundial. E, pelo andar da carruagem de 2011, os 7,5% de expansão ficarão para a história. A expectativa de inflação no fim deste ano é mais acanhada. Aliás, mais acanhada até que a própria meta determinada pelo Banco Centra, em torno de 4,5%. Não será possível. Segundo dados do BC, é de 5,6% e, no fim de 2012, chegaria a 4,6%. Somente no primeiro trimestre de 2013 a inflação atingiria a meta, de 4,5%. A justificativa é simples: o custo para se atingir a meta no curto prazo é inviável.
Mas crescer menos também significa menos arrecadação de impostos. Ou seja, menos possibilidades de proporcionar mais crescimento. O relatório do BC ainda prevê para baixo, numa média de 4%, o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. O fato é que este planejamento foi realizado com base no crescimento do País em 5%. Isso significa que o PIB não aumentará como o previsto, já que a arrecadação reduzirá.
A notícia do BC esbarra em diversos setores da economia do País. Na comparação com o relatório divulgado em dezembro, houve redução em todas as projeções de crescimento por atividade econômica. A indústria passa de 5,4% para 4,2%; o comércio, de 5% para 4,2%; os serviços, de 4,2% para 3,8%; e a agropecuária, de 3,3% para 1,9%. Considerando a taxa básica de juros, a Selic, a 11,75% ao ano e o dólar a cerca de R$ 1,65 no final deste ano, devem ficar neste trimestre em torno de 6,2% as projeções para o IPCA dos últimos 12 meses, com aumento para 6,6% no terceiro trimestre e redução para 5,6% no final do ano.
Com base nos números e índices, os riscos de aumento de inflação existem, sim. E qualquer medida de indexação na economia pode ser maléfica para o combate ao aumento de preços, a exemplo de correção do salário-mínimo, da tabela do Imposto de Renda e outras. Cumprir as metas inflacionárias seria indispensável. Isso ajudaria a reduzir a tendência de indexação.
De fato, o Brasil não poderia crescer tanto. Deveria, mas não há condições para isso. Diante dos fatos, o custo para se expandir tão rápido é mesmo alto e inexequível. O problema é que a notícia, apesar de ter sido divulgada somente agora pelo Banco Central, não é nova para os brasileiros. Não é novidade para o mercado financeiro. E o Governo certamente já sabia disso. Ao menos agora, é oficial.
Sem sombra de dúvida, é importante crescer economicamente, desenvolver-se sob esse aspecto, mas é importante ter calma e não meter os pés pelas mãos. Se o Brasil ainda não pode crescer tanto, então tenhamos calma e encontremos outros caminhos para que esse progresso ocorra, principalmente se estiver atrelado à metas consistentes de desenvolvimento social, distribuição de renda e combate eficiente à pobreza e miséria. Um país que cresce e não se desenvolve, está sendo e vai continuar a ser um país pobre. Jamais esqueçamos disso.