Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Sociedade do trabalho X desemprego (parte 2)

ADMITE RIFIKIN, no passado, quando uma revolução tecnológica ameaçava a perda massiva dos empregos em determinado setor econômico, um novo setor surgia para absorver a mão-de-obra excedente. No início do século, o setor industrial emergente conseguia absorver grande parte dos milhões de trabalhadores agrícolas que foram deslocalizados através da rápida mecanização da agricultura. Entre meados da década de 50 e o início da década de 1980, o setor de serviços, que crescia rapidamente, foi capaz de reempregar muitos dos operários despedidos em virtude da automação. Na atualidade, na medida em que todos esses setores vão sucumbindo, vítimas da rápida reestruturação e da automação, nenhum novo setor significativo é capaz de absorver os milhões que estão sendo despedidos. Admite que as novas realidades econômicas do próximo século XXI se distanciam das probabilidades de que o mercado ou o setor público seja capaz de resgatar a economia do crescente desemprego tecnológico. Comprovou-se a impossibilidade de confirmação da teoria de Say, e se teme a volta das nefastas idéias de Malthus. Segundo ele, a produção costuma crescer em progressão aritmética, enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica e quando esta desproporção chegar ao extremo, as pestes, epidemias e as guerras se encarregariam de reequilibrar a situação.
Depois da Segunda Guerra o “pleno emprego”, ou seja, a eliminação do desemprego em massa tornou-se a pedra fundamental da política econômica nos países industrializados. Mas, em etapas seguintes, os “downsizings” destruíram o antigo contrato social implícito depois da Segunda Guerra, propiciando uma nova concepção de “lupen proletariat”, que derrama “sem teto” por todos os países industrializados.
Os teóricos se põem de acordo com a introdução desta nova realidade:
Will Hutton: “hoje, o quadro é de um grande número de pessoas circulando entre o desemprego e o subemprego, até o seu retorno ao desemprego, sem receber um salário satisfatório. Quase sempre o emprego conseguido por um desempregado é de tempo parcial, e poucos pagam mais de quatro libras por hora… O que temos é a transformação do trabalho em mercadorias de pior forma… Os empregos de tempo integral estão sendo corroídos” (HUTTON, 1998: 68-9).
Viviane Forrester: “Existe o paradoxo de uma sociedade baseada no trabalho, quer dizer, no emprego, enquanto o mercado laboral está não só periclitando, mas perecendo” (FORRESTER, 1997: 56).
Huw Beynon: “As unidades fabris que venderão e as que permanecerão abertas foram dirigidas com o propósito de reduzir drasticamente seu quadro de empregados. Nos Estados Unidos esse processo de redução foi chamado DOWNSIZING ou, ocasionalmente, de ajuste da máquina (RIGHSIZING)… Os níveis de empregos também foram reduzidos se recorrendo às técnicas de terceirizar, que recomendam subcontratar atividades específicas de outras empresas mais especializadas” (BEYNON, 1997: 12).
Segundo a OIT, existem mais de cem milhões de crianças trabalhando no mundo e esta cifra poderá alcançar os 200 milhões. Quatro milhões de crianças nos Estados Unidos vivem em absoluta marginalidade. Adverte Douglas W. Nelson, diretor executivo da Fundação Annie E. Casey que “nada pode surpreender pelo que chegam a ser depois jovens que têm crescido em lugares em que as drogas, a violência, a gravidez e a beneficência não desejada são muito mais freqüentes que as escolas seguras, os diplomas ao final do ensino secundário e os bons empregos.
No Brasil, segundo dados do IBGE, cerca de 7,5 milhões de crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, trabalham, representando 11% da população ativa
Em plena pós-modernidade é possível identificar outro aspecto monstruoso: trata-se do trabalho forçado. Ele está em toda parte: dos Estados Unidos ao Japão, submetendo pessoas humanas às mais humilhantes e degradantes situações, inclusive, castigos e torturas.
Segundo a Sociedade Ante-escravidão da Austrália, mais de 100 milhões de crianças asiáticas,algumas de até 4 anos, são obrigadas a trabalhar em condições aterradoras; entre 104 a 106, na Índica. Os castigos são indescritíveis: “elas são queimadas, marcadas com ferro em brasa, mortas de fome, flageladas, acorrentadas, violentadas e presas em cubículo durante vários dias”, segundo Paul Bravender-Coyle, porta-voz do grupo. A grande imprensa brasileira tem denunciado práticas similares, e o Ministério Público.
No Recife, dados de 96 demonstram o seguinte: 201.401 famílias vivem em condições subumanas; moram em casas de papelão ou alvenaria e dividem espaços com seus próprios dejetos. Esta cruel realidade se agrava, onde estão concentradas 40 a 50 áreas identificadas pelo estudo de caracterização de pobreza urbana do Grande Recife. Os últimos indicadores sociais apontam para um universo de 60% da população abaixo da linha da pobreza.
Em 1947, o grande poeta Manuel Bandeira construiu esses versos no poema intitulado O BICHO: “Vi ontem um bicho, Na imundície do pátio, Catando comida entre os detritos, Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Comia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”.
O Sumo Pontífice João Paulo II, ao escrever a Carte Encíclica Laborem Exercens, comemorativa do 90º aniversário da Rerum Novarum, afirmou: “Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza”.
Ter essa consciência significa, para ele, “assumir na caminhada que há de levar à realização da justiça no mundo contemporâneo”.

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