Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
Saiba mais.

Vale a pena

Histórico

O Sofisma do Enade

O Ministério da Educação (MEC) divulgou recentemente os resultados do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade). Mais uma vez, a imprensa, ávida por rankings, reduziu o resultado da avaliação a uma análise simplista: faculdades públicas são melhores que as particulares. Com o sofisma, encobrem-se fatores essenciais na interpretação dos dados. O primeiro deles é que o Enade, integrante do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), é apenas umas das dimensões avaliadas pelo governo para acompanhar a qualidade dos cursos de graduação no País. Fatores como a qualidade do projeto pedagógico, corpo docente e infra-estrutura têm um peso importante na avaliação final. Outro ponto diz respeito a uma interpretação mais conjuntural. O resultado da avaliação do desempenho dos estudantes de graduação é reflexo da educação oferecida no ensino básico. Na dança das cadeiras dos vestibulares, há uma inversão de lugares. Estudantes vindos de colégios particulares conquistam as vagas nas universidades públicas. Média de 70% delas. Aos alunos das escolas públicas, com um ensino notoriamente deficitário, resta o esforço financeiro para galgar uma vaga nas instituições de ensino superior particulares, onde a concorrência é menor.

Uma mera interpretação dos dados divulgados pelo MEC também pode levar a uma análise por outra óptica. A imprensa divulgou maciçamente que 30,2% dos cursos das instituições particulares avaliadas pelo Enade tiveram baixa avaliação no ano passado, quando foram aplicadas as provas, contra um índice de 16,9% entre as públicas. Reforçando a disparidade, 1,6% das instituições privadas de todo o País alcançou o conceito máximo, contra 21,2 das públicas.

No entanto, estas diferenças se reduzem bastante quando se leva em conta na elaboração do conceito o Indicador de Diferença do Desempenho Observado e Esperado (IDD), ou seja, o efeito que o curso tem na nota final do estudante. Quando se analisa os dados por meio do IDD, o percentual de notas máximas nas faculdades particulares sobe para 5,6% e o das públicas cai para 10,2%. Como há muito mais cursos privados do que públicos, em números absolutos essa comparação é favorável para a rede particular. São 164 cursos privados com nota máxima, de um total de 2.932, ante 64 da rede pública, de um universo de 626 instituições. Entre tantos dados e interpretações, há um resultado incontestável sobre a divulgação do Enade: o saldo foi um conceito máximo no quesito polêmica.

2 Respostas para “O Sofisma do Enade”

  • Alberto:

    Prezado Janguiê,
    Seus argumentos são mais que ponderáveis, são fortíssimos, eu ainda incluiria um ensaio um pouco útopico para o momento, mas futuramente quem sabe poderemos olhar com mais simpatia. Ou seja:
    1)Creio que o ENEM e o ENADE deveriam trabalhar mais articuladamente.
    2)Essa articulação deveria ter como pressuposto o acompanhamento da vida do
    estudante. Ou através de uma “boa” amostra ou com o tempo, com uma ampliação da amostra.
    3)As avaliãções deveriam contemplar algumas amostras com elementos constantes (gente que participe em todos os exames) com uma diversidade de alunos “bem trabalhada”.
    4)Ai sim, a partir dessas premissas, nos verificaríamos a ação da Escola na evolução do aluno, não só dentro do mesmo nível de ensino, mas também variando de um para outro.
    Não sei se consegui me fazer claro, mas um dia poderemos bater um ” papo” sobre isso.
    Quem sabe podemos pensar em algo que contribua mais tarde?
    Finalmente, meus parabéns Janguiê, voce escreve muito bem, com uma lógica fina e com uma visão “humana e cidadã” de educação.
    um abraço
    Alberto

  • sergio lima:

    No último dia 16 de outubro foi publicado o resultado da prova prático-profissional do Exame da Ordem 2006.2. A leitura dos números indica que o percentual de reprovação aumentou significativamente com relação aos Exames anteriores, chegando a 61,64% dos candidatos que concluíram o curso de direito nas faculdades existentes no Estado, média que vinha ficando em torno de 50% dos inscritos.

    Somente a primeira etapa deste exame – prova objetiva – apresentou um índice de reprovação de 50%. A última prova aumentou este percentual para 61,64%. O percentual de aprovação dos candidatos egressos da Faculdade de Direito do Recife (UFPE) foi de 73,68%, ficando o restante (26,32%) distribuídos entre os candidatos dos 22 cursos de direito com autorização para funcionar no Estado de Pernambuco.

Deixe um comentário