Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Nunca é tarde para estudar

Em Washington, no Kansas, uma americana tornou-se, recentemente, símbolo de uma antiga máxima que, nesta era do conhecimento, não poderia soar mais atual: nunca é tarde demais para aprender. Nola Ochs virou centro das atenções no mundo inteiro ao receber o diploma universitário, aos 95 anos. A mais idosa formanda de que se tem notícia colou grau no curso de licenciatura de estudos gerais com ênfase em história, pela Universidade Fort Hays de Kansas, depois de passar um ano no câmpus convivendo com outros 4.500 estudantes – a maioria, certamente, com menos de um terço da sua idade. Na cerimônia de entrega de títulos, foi aplaudida de pé pelos colegas. Uma justa homenagem.

Tendo em vista a atual situação demográfica mundial, a história de Nola deveria causar mais admiração que espanto. A cada ano, cresce a expectativa de vida das pessoas em todo o mundo. Em 34 anos, a população brasileira praticamente dobrou em relação aos 90 milhões de habitantes da década de 1970 e, somente entre 2000 e 2004, aumentou em 10 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2050, seremos 259,8 milhões de brasileiros e nossa expectativa de vida, ao nascer, será de 81,3 anos, a mesma dos japoneses hoje. Os números são transparentes: o envelhecimento da população está se acentuando – e rapidamente.

Essa mudança demográfica começa a ser percebida também no âmbito social, com mais profundidade nos países desenvolvidos. No Japão, onde a velhice está associada à sabedoria, pessoas com mais de 65 anos, consideradas idosas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desenvolvem atividades intelectuais e produtivas sem despertar os olhares preconceituosos dos que estão ao redor. E mais: o governo japonês, inclusive, tem adotado medidas para encorajar os idosos a continuar integrando a força de trabalho. Segundo noticiou recentemente a BBC Brasil, a idéia é “vê-los como um recurso e não um encargo – mão-de-obra valiosa ao invés de pessoas que precisam apenas de apoio e cuidados”.

No Brasil, a realidade é outra. O País ainda se acostuma com a idéia de, em pouco tempo, ter uma população idosa mais equilibrada em relação ao percentual de jovens. Recorrendo novamente aos números do IBGE: em 2050, os dois grupos devem se igualar em 18% – em 2000, a faixa de zero a 14 anos representava 30% da população, enquanto os maiores de 65 anos eram apenas 5%. Indiferente a essa realidade, a sociedade brasileira insiste em supervalorizar a força da juventude enquanto, displicentemente, despreza a experiência dos mais velhos. É como se, num balanço contábil, os jovens compusessem o lado ativo – os bens e direitos – e os idosos, o passivo – as obrigações.

Não requer muito esforço, porém, concluir que há algo errado nessa contabilidade. Os japoneses provaram isso. Mesmo sem incentivos, os idosos brasileiros também têm demonstrado, com criatividade, que o potencial produtivo e intelectual não diminui com a idade. Por necessidade ou opção, muitos têm retornado ao mercado de trabalho e ingressado na universidade, mostrando-se aptos a dividir espaço, harmonicamente, com os mais jovens. Pesquisa recente da Fundação Perseu Abramo comprova essa realidade: no momento do levantamento, apenas 2% dos idosos estavam estudando – contra 22% da população entre 16 e 59 -, mas, se pudessem escolher livremente, 44% gostariam de fazer algum curso.

A pesquisa também mostra um aspecto preocupante que atinge os brasileiros com mais de 60 anos. Segundo o levantamento, quase metade da população naquela faixa etária é analfabeta. Além do desafio da reinserção, em muitos casos, há, portanto, uma etapa ainda mais árdua a ser superada: a da inserção. Vencer essas duas barreiras requer mudanças tanto no campo de políticas públicas de inclusão do idoso quanto na percepção subjetiva acerca desse segmento. Passa, especialmente, pelo resgate da auto-estima da pessoa idosa. Com permissão do poeta Mário Quintana: “Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida – a verdadeira – em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.”

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