Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Empreendedorismo e avanço da ciência

Antes, a Terra no centro do universo. Hoje, não. Antes, a ordem social era imutável. Não é possível mais afirmar “O Estado sou eu”. A igreja, junto com o poder absolutista, tinha o monopólio da informação. Tinha. A ciência, desde o século XVI, é a responsável por toda uma metamorfose. Gutemberg que o diga.

A partir da revolução científica do Renascimento, as ciências passaram a contribuir de modo cada vez mais decisivo à formulação das categorias que a cultura ocidental passaria a empregar para compreender a realidade e agir sobre ela. Embora o espírito do homem tenha se expressado por outros recursos, como a inspiração poética ou a exaltação mística, o enunciado científico é autor de mudanças significativas. E o Brasil?

As últimas notícias sobre a performance brasileira no que se refere à produção científica sugerem um cenário promissor para o país. Neste ano, todas as nossas universidades subiram de posição no ranking internacional de produção científica do Instituto de Altos Estudos da Universidade Xangai Jiao Tong, na China ( um dos mais importantes do mundo na área acadêmica ). Na lista de países que mais publicam artigos científicos, outro avanço: o Brasil ultrapassou a Suécia e a Suíça, passando a ocupar a 15ª posição. Lamentável é que essa evolução ainda não se manifeste, efetivamente, nas esferas econômica e social. Crescemos em um ritmo lento e as desigualdades só se acentuam.

O Brasil produz muito conhecimento, mas pouco é transformado em riqueza. Enquanto uma larga quantidade de pesquisas produzidas nos laboratórios incorpora-se às revistas científicas, raras inovações tecnológicas são geradas na indústria para serem oferecidas aos consumidores. A produção científica brasileira deveria estar expressivamente nas empresas, nas indústrias. Os recursos tecnológicos gestam e geram riqueza e desenvolvimento no setor produtivo. Entre as causas dessa distorção, destaca-se a equivocada distribuição dasatividades de pesquisa entre os setores público e privado. Enquanto nos países desenvolvidos as empresas empregam dois terços dos cientistas, deixando apenas um terço para o governo, no Brasil, apenas 11% dos pesquisadores estão vinculados ao setor empresarial. Os outros 89% são patrocinados pelo governo.

Verifica-se, no Brasil, que o financiamento público das atividades de pesquisa é desproporcional, tendo em vista os parâmetros internacionais. Os efeitos dessa extrapolação são danosos. Enquanto contribui com maior peso para o avanço da ciência, o governo deixa de investir em outros setores que merecem atenção prioritária, como a educação básica. O problema se agrava diante da falta de interação entre a esfera pública e as empresas, e o resultado não poderia ser outro: um enorme desperdício de recursos e conhecimento. Quando os conhecimentos produzidos não são transferidos para o setor produtivo, ao invés de fomentar o desenvolvimento, o investimento em pesquisa converte-se em prejuízo.

Basta comparar o contexto do Brasil quanto à pesquisa com o de países desenvolvidos. Longe de dissociar os negócios da ciência pública com os da iniciativa privada, como ocorre nas universidades brasileiras, nas instituições americanas, o empreendedorismo impera. Pesquisadores e empresários dividem espaço, harmonicamente, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das mais importantes, ricas e produtivas universidades do planeta. Em Harvard e Stanford, também é difícil encontrar um pesquisador que não trabalhe em parceria com o setor privado ou que não tenha empresa própria de desenvolvimento tecnológico. No Brasil, essa ainda é uma realidade distante.

Para que o país se desenvolva, é necessário que o setor privado reconheça que investir na produção científica é questão de sobrevivência. O apoio das esferas governamentais também é essencial nesse processo. A Lei de Inovação, de 2004, constitui um avanço importante ao permitir que pesquisadores conciliem atividades acadêmicas e empresariais. Entretanto, ao condicionar a abstenção à dedicação exclusiva à redução significativa do salário, a própria norma também evidencia as fragilidades do sistema. O cenário atual demonstra que o desafio maior é desconstruir o mito, mantido por segmentos conservadores da academia, de que o lucro distorce a ética. É preciso reconhecer que o conhecimento necessita estar em sintonia com a realidade. Do contrário, perde a sua razão de existir. Conhecimento apenas assentado em páginas de revistas científicas é desperdiçar nossa capacidade de produção.

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