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Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Onde fica o Brasil?

Parece piada de péssimo gosto, mas é a radiografia da sorumbática realidade educacional brasileira. Pesquisa da Pulso Brasil, realizada pelo Instituto Ipsos e divulgada em artigo recentemente publicado na Revista Veja, revela que nada mais, nada menos que metade da população brasileira não consegue localizar o Brasil no mapa. Isso mesmo, 50% desconhecem a posição do país na América Latina, ou pior: muitos sequer desconfiam que a região onde vivem fica nessa parte do continente. Houve quem dissesse que ficávamos na África, confundindo-nos com países como o Chade e a República Democrática do Congo. E que tal a Argentina? Equívoco imperdoável para quem mantém histórica rivalidade futebolística com essa nação.

A pesquisa – que ouviu mil pessoas, em 70 municípios das nove regiões metropolitanas – é contundente se considerarmos o nível de ignorância alcançado por parcela expressiva dos entrevistados. Comparando com a matemática, é como não saber somar e subtrair. Quando confrontamos o resultado do estudo da Pulso Brasil com o de outras avaliações regulares realizadas pelo próprio Ministério da Educação (MEC), percebemos, entretanto, que não há motivo para tanta surpresa. Os dados apenas evidenciam uma das faces da sabida fragilidade da educação básica no país. Não custa lembrar que temos 13% da população analfabeta, além de mais 10% de analfabetos funcionais, e metade de nossas escolas abaixo da média nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O problema relaciona-se tanto à baixa qualidade dos professores quanto à precariedade da infra-estrutura escolar. Segundo o MEC, 42% dos professores da educação básica não têm diploma de curso superior. O dado é preocupante, já que a falta de qualificação docente compromete irremediavelmente a qualidade do ensino. Salas de aula inadequadas ao processo de aprendizagem, funcionando em instalações precárias, e falta de materiais didáticos também agravam o quadro. Como esperar que um aluno apreenda a localização de estados ou países se a escola não dispõe de mapas? Complicado é que o problema vai muito além da geografia. Se fosse aplicado nas áreas de português ou história, o estudo, certamente, alcançaria resultados igualmente desastrosos.

Convenhamos, a situação é difícil de ser digerida. Outra pesquisa, realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ajuda a compreender as origens desse verdadeiro caos educacional. De 34 países analisados, o nosso é o que apresenta o menor investimento por estudante: US$ 1.303 por ano. Os 30 países da OCDE gastam, em média, US$ 7.527, quase seis vezes mais. O total do PIB investido aqui em educação chega a 3,9%, enquanto que, nos Estados Unidos, corresponde a 7,4%. Para piorar, o pouco que é aplicado em educação no país é mal distribuído. O Brasil também é o país que apresenta o maior nível de diferença entre os gastos por estudante no ensino fundamental e médio, em comparação com os universitários.

Enquanto o país gasta US$ 1.159 com cada estudante do ensino fundamental I (à frente apenas da Turquia, que destina US$ 1.120) e US$ 1.033 por estudante do ensino fundamental II e ensino médio, os gastos com cada estudante universitário chegam a US$ 9.019, ao ano. Em média, os países da OCDE gastam apenas duas vezes mais na educação de estudantes universitários do que estudantes dos ensinos fundamental e médio. O gasto com os universitários no Brasil se compara ao de países como a Espanha e a Irlanda, e fica à frente da Itália, Nova Zelândia e Portugal, entre outros. Verifica-se, assim, uma distorção: enquanto a educação básica brasileira carece de investimentos mínimos em infra-estrutura e qualidade do corpo docente, os gastos com a superior superam os de países desenvolvidos.

Não significa, evidentemente, que investir no ensino superior seja um desperdício. Apenas é preciso uma destinação mais coerente dos recursos disponíveis. Perpetuando uma educação básica ruim, estamos pagando para que jovens que contornaram essa deficiência – recorrendo ao sistema privado de ensino – possam estudar gratuitamente em faculdades, embora tenham condições de continuar pagando por seus estudos. Para os que não tiveram a mesma oportunidade, as instituições privadas tornam-se alternativa. A análise dos resultados dos estudos da Pulso Brasil e da OCDE aponta para uma conclusão: não é apenas o Brasil que, para metade dos brasileiros, aparece deslocado no mapa. Os recursos que deveriam ser investidos na educação básica também andam no lugar errado.

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