Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas”

A recente ocupação da Rocinha fez com que os olhos da mídia e da opinião pública ficassem atentos apenas para a manifestação da criminalidade organizada presente nas áreas pobres da capital fluminense. Mas onde está a corrupção? A contínuada queda de ministros, por exemplo, faz com que ativemos nosso GPS. É preciso localizar a corrupção e, consequentemente, combatê-la.

Com efeito, aos olhos de uma noção clássica da filosofia, todas as coisas têm matéria e forma. O corpo do homem é a matéria, e a sua alma constitui a forma. Em um Estado, a matéria é o povo ( o conjunto dos cidadãos ), e a forma se dá através do regime político instalado. Idade, poder econômico, níveis de escolaridades são partes da matéria. O Poder Executivo, uma Câmara Consultiva, a Polícia, Escolas são partes da forma. Enfim, o conjunto das instituições constitui o Estado. A corrupção jamais está em todas as instituições de uma só vez. Sempre há resistências. É impossível o Estado ser corrompido em todas as suas partes. Ele não sobreviveria.

Nessa perspectiva, a extorsão, a cobrança de propinas, denúncias contra ministros são exemplos que, embora frequentes na administração pública, não se pode dizer que tal grau de corrupção seja a lógica da ação política desse Estado. Ainda que fique a sensação de corrupção generalizada de seus membros, não seria devida tal leitura. Passando a corrupção a ser a regra, não estaríamos falando de pessoas corruptas. E, sim, de instituições do governo. Mas não temos órgãos corruptos. Temos olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas”.

A ocupação da Rocinha revelou que policiais ( pessoas do estado ) protegiam traficantes. Portanto, traficantes corrompiam o estado. Recentemente, o Ministério Público de São Paulo mostrou práticas de corrupção envolvendo agentes públicos de várias prefeituras. Com esta outra lente, observa-se a corrupção sendo combatida.

Maquiavel, fundamentado em la verita effetuale dela cosa, isto é, a verdade efetiva das coisas, afirma que em toda cidade há, ao menos, dois grandes grupos políticos: “os grandes ou ricos” e “os pobres ou pequenos”. Depois esclarece que o interesse político desses grupos se distingue. E dessa natural tensão, é inexorável o conflito. Mas tudo isso lhe é natural, desde que não provoque derramamento de sangue ou guerra civil.

Outrossim, diríamos, em nosso tempo, que essa natural tensão é o que se dá durante a aprovação de uma lei, onde o interesse é o coletivo. As leis e institucionalizações impedem os abusos e moderam as vontades. Mas a corrupção está além desse exemplo. Ela interfere nos rumos da sociedade organizada.

Quem se lembra de Olívio Dutra, em 1988? Sua gestão implantou um mecanismo de participação política: o “orçamento participativo”. Dividindo a cidade em setores, realizavam-se reuniões com a participação de moradores para decidir como seria gasta uma parcela do orçamento da prefeitura. Foi inevitável, no início, parcela da população querer atender a interesses próprios como “minha rua”, “minha calçada”. Mas o espírito público foi se fazendo maior.

Em 2004, o PT perde a prefeitura. José Fogaça, do PPS, assume. Mas foi mantido o Orçamento Participativo. Vemos que a iniciativa de um grupo se transformou em instituição política. E isto se ampliou – bem sabemos. São iniciativas como essa ( do orçamento participativo ) que garante afirmar não haver apenas olhos maquiavélicos sobre o que é público. Porém, devamos estar sempre avisados de que eles, assegura-nos o próprio Maquiavel, naturalmente surgem na própria estrutura governamental. Mas estamos cada vez mais de olhos abertos. Atento leitor, não desligue seu GPS.

Uma Resposta para “Olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas””

  • Gustavo Hollanda:

    GPS ligado. Já neguei convites que propunham me tornar um deles. Preferi minhas noites bem dormidas e a saúde mental minha e de minha família preservadas. Parece que Deus colocou dentro de nós um sistema de “auto-regulagem”, onde a consciência pesada (doença da alma), se somatiza em doenças do corpo, câncer, derrame, ataque cardíaco. Quando criança, em brincadeiras com meus irmãos mais velhos, dizíamos como grito de guerra: “-Antes viver um dia como águia do que uma vida inteira como sapo.” Sapos, deixem o dinheiro do povo em paz, levantem a visão e vejam que é muito melhor defender o bem comum e sermos todos ricos juntos do que amealhar fortuna que o ladrão leva e viver amedrontado com o assalto iminente. Lembro-me de uma frase muito interessante atribuída a Pedro de Lara: “- Conheci um cara que era tão pobre, tão pobre, que tinha apenas muito dinheiro.” Janguiê, parabéns pela reflexão acerca do tema. Uma verdadeira aula. Obrigado.

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