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Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

O risco da desindustrialização

O Brasil está seguindo de marcha à ré. E o caminho inverso ao desenvolvimento que o País está fazendo tem nome: desindustrialização. O assunto esteve presente na campanha eleitoral, quando o candidato José Serra disse que o Brasil estaria vivendo este processo. Na ocasião, o Governo negou. Mas agora o Ministério do Desenvolvimento admite: o risco existe.

E existe mesmo, é fato. A forte valorização da moeda americana, frente ao real, é motivo de preocupação do Governo Federal. Ou, ao menos, deveria ser. A desindustrialização acontece quando o país reprimariza a economia, produzindo mais produtos primários. Para o Brasil, isso não deveria ser problema, já que trata-se de uma vocação do País. Mas o processo pode gerar perda da competitividade dos produtos manufaturados.

O temor veio à tona com a chamada “guerra cambial”. A sobrevalorização do real em relação ao dólar é um agravante certo para as indústrias brasileiras que exportam seus produtos, pois a relação de câmbio gera perda de receitas para quem faz vendas externas, ao receberem menos reais pelos dólares obtidos nas negociações. Neste caso, caberia aumentar o preço do dólar, o que gera uma redução da competitividade.

Até mesmo indústrias que se dedicam mais ao mercado interno, vendendo seus produtos dentro do País, também podem sofrer com a desvalorização da moeda americana, já que o dólar no atual patamar estimula a importação de produtos mais baratos, a exemplo das mercadorias chinesas, que chegam ao Brasil com preços competitivos ou menores, desacorçoando o comércio de empresas brasileiras.

O Governo Federal pode ainda não ter alcançado a gravidade do excessivo aumento do real em relação ao dólar. A guerra cambial corre o risco de se aprofundar e, caso isso venha a ocorrer, as indústrias nacionais perderão totalmente a competitividade, tornando os negócios inviáveis. Isso acarretaria uma quebradeira de setores inteiros, gerando redução na produção das indústrias e consequente perda de postos de trabalho.

Por enquanto, o que resta ao Brasil é a produção de mais produtos primários. Para ilustrar, somente no que se refere a veículos e material de transporte, nós saímos de um superávit comercial de US$ 9 bilhões para um déficit de US$ 3 bilhões. O esforço do Brasil vai da imposição das barreiras à importação, por parte do Ministério da Fazenda, ao incentivo à exportação com menos impostos e burocracia, sugestão do Ministério do Desenvolvimento.

No entanto, o que Governo vem fazendo, ainda assim, pode não ser suficiente. As medidas para reduzir os impactos do excesso de dólares no mercado podem cair por terra. Isso porque os Estados Unidos e a Europa estão firmes em suas medidas para amenizar os problemas deixados pela crise financeira mundial, que teve início no fim de 2008. Essas economias têm adotado políticas expansivas na emissão de moeda e, com isso, o Brasil tem sido afetado. O rompimento, ainda que temporário, com a livre flutuação do câmbio seria, no entanto, arriscado, já que a medida implicaria na provocação de reações negativas no mercado brasileiro.

O Brasil está, definitivamente, nas mãos dos líderes internacionais. A falta de sensibilidade de países como os Estados Unidos e China, por exemplo, pode levar o cenário brasileiro a uma desvalorização ainda mais profunda, afetando seriamente setores produtivos da economia nacional. A crise cambial é um problema maior do que parece. É o que pode levar o Brasil à crise que o País não viveu no ano passado. O Governo precisa contar com a possibilidade da falta de bom senso do mundo e estar preparado para novas alternativas. Ou o País seguirá de marcha à ré e, pior, de maneira acelerada.

Uma Resposta para “O risco da desindustrialização”

  • Michea Araú-jour:

    Parabéns, Ilustríssimo José Janguiê.
    Sou um forte admirador de seus artigos.
    Eles fazem parte de uma unidade onírica, de uma sociedade onírica. Mesclar o cultismo junto à razão coloquial; o corriqueiro junto ao loquaz é digno de quem tem mais que um título. PhD, ou até ThD, são títulos extraordinários. Ademais, o maior é ser assim: um educador-crítico, que descreve com brio as vicissitudes das ciências políticas e sociais: comparando-as, interligando-as e, de modo intrínseco, dissecando-as. Outrossim, visionando como disse E. Hemingway, por Otto Lara Resende: “… vendo primeiro o que muitos não vêem…”.

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