Falta de infraestrutura barra crescimento
O Brasil vem crescendo a taxas nunca antes vistas neste País. Mas – ainda parodiando o presidente Lula – também nunca antes na história do Brasil se pecou tanto em infraestrutura. O fato é que não há, no País, uma cultura de investimentos, e, assim, vale destacar que uma expansão acima de 5% pode levar a nossa economia a um colapso em 2011. A falta de injeção de recursos na manutenção de rodovias é relevante, o que se configura como grande empecilho para um maior crescimento da economia brasileira.
Há poucos dias, a revista britânica The Economist publicou uma matéria classificando a infraestrutura do Brasil como “profundamente irregular”. Entre os graves problemas noticiados pela revista estão os deslizamentos ocorridos no Rio de Janeiro e o lento desenvolvimento do transporte público de massa e da malha viária, ao passo que aumenta visivelmente a quantidade de automóveis nas ruas, já incapazes de comportá-los. Demais setores como habitação, agricultura, energia, bancos, construção civil e indústrias naval e siderúrgica também foram avaliados pelo periódico. Todas as críticas são pertinentes.
O Brasil pode comemorar sua saída da crise econômica mundial sem ter sofrido, nem de longe, os efeitos vistos em outros países, como o que ocorreu com os Estados Unidos e diversas localidades da Europa. Neste contexto, nós experimentamos uma onda de expansão em boa parte dos setores da economia. No entanto, a falta de infraestrutura brasileira contribui para o não favorecimento da sustentabilidade deste atual crescimento. É bem verdade que a ampliação econômica de um país só traz reais benefícios se as autoridades tiverem competência para investir este resultado positivo em favor da sociedade. Mas neste aspecto, entram a burocracia e a morosidade de nossa máquina governamental.
Os problemas referentes ao transporte no Brasil são grandes. Segundo estudos da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a má conservação das estradas brasileiras é um mal conhecido. Pelo menos 70% das rodovias são deficientes ou péssimas, e em 42% há problemas de pavimentação e de sinalização. E não faltam recursos. Há indícios de que, dos R$ 8,5 bilhões previstos no Orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para serem usados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2010, somente pouco mais de R$ 900 milhões foram efetivamente pagos. Como se não bastasse, ainda de acordo com o Ipea, as obras previstas no PAC para as estradas estão atrasadas em 70%.
Tornando o assunto ainda mais preocupante, nos últimos oito anos, foram arrecadados cerca de R$ 65 bilhões, cobrados do setor de combustíveis, por meio da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). Mas o Governo Federal teria gasto apenas um terço deste valor na área de transporte. Para resolver o problema das rodovias brasileiras, segundo o Ipea, seria necessário uma aplicação de recursos na ordem de R$ 183,5 bilhões. E vale salientar que tais investimentos seriam válidos, já que a redução de acidentes diminuiria os custos de toda a cadeia econômica, uma vez que as más condições das estradas encarecem o transporte de pessoas e também de mercadorias.
A economia brasileira está crescendo, sim, como nunca antes. Mas não existe uma aproveitamento dos recursos que são gerados com esta expansão. O desapego com a infraestrutura, e a falta de um real investimento na área de transportes do País, são visíveis e, acima de tudo, preocupantes. E é justamente este o maior entrave para o crescimento, ou melhor, para que seja sustentado o crescimento do País.
42 km?! Não entendi este número. Ou ele é bem maior ou então seria um percentual, 42% , por exemplo?!
Considero o artigo bem oportuno. Em um país com dimensões continentais como o nosso Brasil, ignorar este elemento tão essencial é um erro crasso em planejamento estratégico.
Talvez tenha faltado uma menção no texto às hidrovias e ferrovias. É sabido que tais malhas de transportes possuem uma relação custo-benefício melhor que a citada no texto.
Prosperidade Janguiê!
Gileno Amaral