Perfil

Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Estará próximo o Apocalipse?

“O Apocalipse está próximo”. Eis o título da matéria escrita por Renato Pompeu, para a revista Caros Amigos de 23 de abril de 2005. Na oportunidade registrou o aludido jornalista: “Ondas gigantescas no Pacífico, geleiras derretendo da África à Ásia, aldeias inteiras no Alasca e no ártico migrando para fugir do aquecimento de seus habitats, o primeiro furacão na história do Brasil, secas, tempestades e inundações de inusitada intensidade em diversos pontos do globo. Se as catástrofes sempre fizeram parte da história humana, nunca as previsões científicas nos aproximaram tanto como atualmente do apocalipse: a temperatura da terra está subindo aceleradamente, o nível do mar aumentando e, a continuar nesse ritmo, dentro de alguns anos as hecatombes farão parte do cotidiano dos homens até mesmo em lugares que pareciam a salvo da fúria da natureza. O esgotamento dos recursos naturais, principalmente da água doce, compõe a outra face da tragédia. Previsões indicam que, até 2050, uma entre quatro pessoas sofrerá com a falta de água. Como no aquecimento do planeta – provocado basicamente por atividades econômicas poluentes- é o modo de vida da sociedade pós-Revolução Industrial o grande responsável pela escassez de água potável. O desmatamento que ameaça a água é o mesmo que ameaça o clima, que, por sua vez, trará a morte das florestas, mudanças no regime de chuvas e de drenagem de solos e rios.

Infelizmente é triste consignar que ninguém pode mais esconder esta triste realidade. Ela está inserida nas catastróficas previsões econômicas e demográficas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês, da ONU), ou seja: mais de 2.500 cientistas de mais de 100 países, naquela reunião que se encerrou no dia 6 de abril do corrente ano, em Bruxelas, diagnosticaram os efeitos devastadores do aquecimento global e as conseqüências nefastas sobretudo para os países pobres, exatamente os que menos poluem.

O texto divulgado, em seguida, após uma semana de negociação entre países desenvolvidos, liderados pelos EUA, os emergentes, conduzidos pela China, e os cientistas, alguns termos sobre responsabilidade foram abrandados, em comparação com o texto inicial. No entanto, as conclusões continuam fortes. Como se necessita de, pelo menos, 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, até 2030, calculado em 2005, em US$ 44,6 trilhões – hoje, representando 892 bilhões, o equivalente a mais de 80% do PIB do Brasil-, “de acordo com a concentração almejada de gases causadores do efeito estufa na atmosfera terrestre – e o conseqüente aumento na temperatura média global, com seus devidos impactos na biosfera – os governos precisam decidir se gastam mais ou menos do PIB. Basicamente, quanto menos se investir, maior a concentração de gases, mais alta a temperatura e mais agudos os impactos”.

Estamos, pois, vivenciando está dolorosa encruzilhada. Ela exige compromissos e articulações mais eficazes que envolvam também a sociedade civil, as entidades sindicais, as ONGs, os excluídos de todo o gênero; exige uma pressão mais clara contra as posturas ambíguas dos organismos e cooperações internacionais, das lideranças políticas dos países ricos; exige outras alternativas desvinculadas das propostas contraditórias e maledicentes apresentadas pelas grandes corporações multinacionais e, em geral, pelas forças brutais dos mercados.

O mundo inteiro permanece alerta, diante da gravidade do problema. Não é por acaso que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), presidida pelo indiano Rajendra Pachauri, que ganhou o prêmio Nobel da Paz, juntamente com Al Gore, ex-vice presidente dos Estados Unidos, retrata friamente esses dilemas. Na oportunidade, afirmou Gore que os Estados Unidos e a China deixem de se acusar e passem a assumir compromissos efetivos contra a emissão de CO2. Todos sabem que os Estados Unidos, não firmaram o protocolo de Kyoto, sob o argumento de que não poderiam sacrificar ou penalizar a sua economia.[2]

Por outro lado, segundo Bauman, há uma tendência universal para uma radical liberdade do mercado ao progressivo desmantelamento do estado do bem-estar, assim como entre a desintegração do estado do bem-estar e a tendência a incriminar a pobreza. E, conclui, descrevendo a citada conferência: De fato, de maneira gradual, mas, inexorável, torna-se um axioma do discurso público que tudo o que economicamente ‘tem sentido, não necessita de apoio de nenhum outro sentido – político, social ou categoricamente humano.

Num mundo em que os principais atores já não são os estados-nações democraticamente controlados, mas conglomerados financeiros não-eleitos, desobrigados e radicalmente desencaixado, a questão da maior lucratividade e competitividade invalida e torna ilegítimas todas as outras questões, antes que se tenha tempo e vontade de indagá-las… Teme-se pensar no que possa ocorrer na Europa, amedrontada pelo ascendente desemprego estrutural e pelo rapidamente crescente setor “improdutivo” da população, se a atual tendência dos Estados Unidos continuar inalterada, e se for reconhecida como “economicamente correta’, graças ao avanço dos lucros e da capacidade competitiva” (BAUMAN, Z: 1998, 61).

Enfim, estará próximo o apocalípse?

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