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Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Ensino superior para brasileiros

O país está próximo de ganhar mais uma universidade. A iniciativa, todavia, não deverá contribuir para reduzir as desigualdades que tanto retardam o crescimento nacional. Os brasileiros não comemorarão a chegada de mais uma instituição de ensino superior, que o governo federal pretende erguer até 2010, porque ela não será voltada para os brasileiros. Caso saia do papel, a universidade atenderá os países africanos de língua portuguesa e o Timor Leste. Enquanto isso, aproximadamente 88% de nossos jovens entre 18 e 24 anos permanecem excluídos da educação superior.

A mais nova investida do governo federal deixa aceso o sinal de alerta. Afinal, esse tipo de projeto não é novo: a instituição, que deverá se chamar Universidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (UniCPLP), já é a segunda a ser pensada nesses moldes. Primeiro, veio a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, anunciada em 2007 e com funcionamento previsto para este ano, em uma área da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu. A mais nova, ainda dependendo de aprovação do Congresso, também já tem endereço: deverá ficar em Redenção, no Ceará, primeira cidade no país a abolir a escravatura.

A escolha do lugar onde deverá funcionar a UniCPLP revela as pretensões do projeto. A idéia parece concentrar-se na quitação de uma dívida histórica que o Brasil mantém com os países da África, por ter sido durante anos o destino de escravos oriundos desse continente. Analisada apenas historicamente, a postura poderia ser considerada válida. Entretanto, existem outros aspectos que não podem ser ignorados. Primeiro, há a própria conveniência do projeto e os riscos nele envolvidos. Outra questão, não menos importante, refere-se aos custos, extremamente elevados, para a execução da medida.

É inegável que a criação, no território brasileiro, de uma universidade para africanos e timorenses serve de reforço à exclusão. Pressupõe que os próprios brasileiros, que pagam impostos e geram desenvolvimento para o país, não podem ter acesso à instituição. Vale destacar que não há, nas universidades brasileiras, nenhuma barreira legal ao acesso de estrangeiros, sendo exigida apenas documentação básica. O critério de ingresso nessas instituições é único: o mérito, comprovado por aprovação em processo seletivo. Por que, então, criar barreiras para os que nasceram e vivem no país? Seria, no mínimo, incoerente.

A questão do financiamento do projeto também merece análise cautelosa. A construção e o equipamento da instituição deverão ser pagos pelo governo federal, investimento cujo valor ainda não foi divulgado. Ainda está em discussão o modo de financiamento dos alunos estrangeiros, mas já se sabe que a manutenção dos estudantes africanos não será bancada apenas pelos governos que os enviarem. Esse ônus também recairá sobre o governo brasileiro, incluindo os gastos com moradia estudantil, alimentação e assistência aos alunos. Sem esses cuidados especiais, o governo já gasta, em média, 10 mil dólares por ano para manter um estudante de universidade pública, um valor considerável para os cofres brasileiros.

Diante do caráter excludente da proposta, dos elevados custos envolvidos e, sobretudo, do considerável volume de jovens ainda fora da universidade, a discussão sobre a criação de uma universidade para estrangeiros, quaisquer que sejam as nacionalidades, esvazia-se. Se temos uma dívida histórica com países africanos, é ainda mais grave e urgente a nossa dívida social com os brasileiros. Garantir o acesso à educação superior aos nossos jovens deve ser prioridade absoluta, antes de se partir para ações voltadas para o exterior. Não significa, porém, que o Brasil não possa e deva dar a sua contribuição para o desenvolvimento de países como os africanos. Há, porém, caminhos mais justos e viáveis, por meio dos quais todos podem sair ganhando.

4 Respostas para “Ensino superior para brasileiros”

  • Vasconcelos:

    Janguie,

    Excelente artigo! Parabéns.

  • karla:

    caro, visitei o blog e achei o conteúdo bem interessante.
    trabalho numa empresa ligada a educação e gostaria de enviar um material para que conheça o trabalho da mesma.
    qual o email do blog?
    muito obrigada,
    karla

  • Marcela Luiza:

    Muito interessante o conteúdo desse espaço aqui na web, o governo ainda tem que investir muito em educação, não se de infraestrutura mas também no quesito qualidade. Porém, o esforço sempre é essencial, tanto em universiades/faculdades públicas como nas privadas, muito estudo sempre. Recomendo quem for estudar em faculdades privadas escolher muito bem a instituição de ensino, pois você fica bastante preparada para entrar no mercado de trablho com um conhecimento considerável, por isso, pesquisem! Recomendo aqui em Brasília a faculdade IESB. Parabéns pelo post.

  • richard:

    A educação superior no Brasil não pode ser discutida sem que se tenha presente
    o cenário e o contexto em que ela surge, ou seja, deve-se ter presente o tempo e o
    espaço em que ela está inserida, analisando desde o momento de seu surgimento até a
    realidade atual da educação, tanto no panorama local, regional como mundial.
    O Brasil está localizado na América Latina, um Continente visto por muitos
    como de exacerbada pobreza. É, sem dúvida, um continente de muitas desigualdades,
    tanto no âmbito social como no âmbito territorial. Conforme resultados do estudo do
    Banco Mundial, a América Latina é o continente com o maior número de índices
    desiguais em vários aspectos, incluindo-se, entre eles: distribuição de renda, despesas
    com bens de consumo, serviços, acesso à saúde e, principalmente, acesso à educação.
    Mesmo assim, a universidade na América Latina, desde o seu surgimento, tem assumido
    um papel muito maior do que sua responsabilidade formativa. Ela traz para si a decisão
    de formar cidadãos empenhados com o compromisso social, com a luta pela diminuição
    das desigualdades, com a criação de oportunidades para todos, com o compromisso do
    desenvolvimento econômico e social e com a construção e manutenção de identidades
    culturais.
    O grande desafio para os países latino-americanos consiste em oferecer
    aprendizagem, investigação e oportunidades de trabalho para seus indivíduos, de forma
    eqüitativa e equilibrada, a fim de assegurar conhecimentos avançados que oportunizem
    o desenvolvimento de suas economias, uma vez que esses mesmos países estão se
    convertendo em protagonistas do mercado global.

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