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Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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Histórico

Engrenagem viciosa

A divulgação do resultado da primeira etapa do concurso para professor da rede estadual de ensino, recentemente, comprovou uma realidade que a sociedade – ou parte significativa dela – temia admitir. Nossos alunos “vão mal na escola” porque nossos professores não têm cumprido com eficácia a sua função nas salas de aula. De 27.538 candidatos que participaram da seleção, apenas 1.679 atingiram o coeficiente mínimo exigido para a aprovação, ou seja, conseguiram obter nota igual ou superior a seis.

A conclusão é alarmante: 94% dos nossos docentes foram reprovados, tendo por base o certame. A falta de preparo dos candidatos reforça a necessidade de instrumentos ainda mais rigorosos de verificação da qualidade do exercício da licenciatura. Como ocorre com os alunos, os professores também devem ser submetidos a avaliações sistemáticas e, mais ainda, premiados ou punidos conforme o desempenho alcançado. É o que preconiza a meritocracia, modelo de gestãoaplicado com sucesso em diversos países. No Brasil, entretanto, essa alternativa é ofuscada pela persistência de alguns mitos. Um deles é o de que o cerne da questão reside na má qualidade dos cursos de graduação.

É preciso frisar que a visão que condena as instituições de ensino superior pelo baixo desempenho dos professores é superficial. O problema, na realidade, integra uma engrenagem viciosa. Os aspirantes a professores são oriundos da mesma educação básica deficitária que pretendem ingressar. Faltam estudantes aptos a entrar na universidade, os quais, por sua vez, acabam ocupando as bancas das faculdades não por mérito pessoal, mas por um excedente de vagas nos cursos de licenciatura, resultado da desvalorização da profissão. Basta verificar as baixas concorrências dos vestibulares de instituições públicas e privadas.

Há também um outro aspecto que esconde a verdadeira origem do problema. Convencionou-se creditar como causa da baixa qualidade do ensino brasileiro o fator salarial. Calculando-se algunscoeficientes de correlação, como demonstrou o economista Cláudio Moura Castro, em artigo recente divulgado na revista Veja, é possível refutar o argumento de que salários baixos estão associados à oferta de uma educação de baixa qualidade. Segundo o levantamento, Alagoas e Amazonas pagam muito e têm desempenho fraco. Já Minas Gerais e Santa Catarina pagam pouco e estão no topo da lista do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Se o problema não está nem na qualidade da formação dos docentes nem no fator salarial, a que se pode atribuir tamanha catástrofe educacional? Uma pesquisa recente, realizada entre professores de escolas públicas e privadas, também divulgada por Cláudio Moura Castro, ajuda a responder a essa questão. O levantamento indicou que 80% dos professores da rede pública estavam insatisfeitos e com sua auto-estima abalada. Já em uma pesquisa com escolas privadas de todo o Brasil, verificou-se que 80% dos professores estavam satisfeitos. Com níveis salariais parecidos, as escolas privadas atraem melhores professores e os mantêm contentes. O mesmo parece se verificar nas instituições públicas bem lideradas.

Não fica difícil concluir que uma das alternativas para contornar esse cenário educacional desastroso é a criação de um ambiente mais estimulante para o exercício da docência, no qual os professores possam ser reconhecidos e premiados pelos resultados alcançados. Vale frisar que os números do concurso não devem ser analisados como uma sentença condenatória dos docentes, mas como um sinal de alerta para que as escolas, a sociedade e os professores avaliem como vêm desempenhando os seus papéis no desenvolvimento da educação do país e como podem contribuir para reverter a situação atual.

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