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Nasceu em 21 de março de 1964, em uma pequena cidade do sertão da Paraíba. Aos cinco anos, seus pais se mudam para Mato Grosso e, depois, para Rondônia.(...)
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De volta para o passado?

Os recentes debates envolvendo a aplicação da tecnologia na educação, para que a modalidade a distância seja incentivada nos ensinos médio e superior, têm motivado uma espécie de demonização de toda proposta e até do tema. Como se fosse proibido o Brasil revisar sua legislação, antevendo o avanço das possibilidades de se educar nossos jovens e os condenando a viver no passado.

Um exercício interessante é pedir para as pessoas responderem de supetão há quantos anos Steve Jobs apresentou em São Francisco, nos EUA, o primeiro modelo de smartfone e revolucionou nossa sociedade. A resposta é surpreendente: apenas 11 anos.

Precisamos compreender a velocidade com que se desenvolve a chamada era digital e buscar formas para que ela contribua com a redução de algumas mazelas da educação brasileira. O que não podemos é ignorá-la, como se o mundo não estivesse em transformação.

Mas isso só será possível se nossas leis estiverem atualizadas e, importante, permitam que a tecnologia seja aplicada, sem jamais obrigar seu uso. Até porque é notório que nem todo aluno ou escola está apto a mudanças de forma homogênea.

O tempo se encarregará de trazer equilíbrio ao modelo educacional e indicar o caminho adequado. O MEC poderá, então, utilizar os instrumentos tradicionais ao seu alcance, como portarias e decretos, para adequar a legislação.

No ensino médio, por exemplo, que concentra 88% dos alunos na rede pública, ao invés de lamentar a eterna falta de bibliotecas, laboratórios e professores, bem como a dificuldade com o transporte, devemos refletir de que forma computadores portáteis e smartfones podem amenizar a deficiência de aprendizado que os jovens apresentam em sua formação, causada pela falta de infraestrutura.

A discussão na educação superior, com 75% dos estudantes nas instituições particulares, passa pelos mesmos questionamentos. Conselhos profissionais querem fazer crer que um aluno não pode ter parte de seu aprendizado a distância.

Tentam criar uma falsa impressão de que se incentiva a formação de um enfermeiro, por exemplo, que nunca esteve presencialmente com seus professores, sendo que isso jamais foi sequer cogitado.

A regulamentação do MEC prevê que atividades presenciais obrigatórias, definidas em diretrizes curriculares nacionais, continuem sendo realizadas. Mais uma vez, o que se propõe é o uso da tecnologia como instrumento facilitador do aprendizado.

O debate sobre a permissão ou não da inclusão da educação a distância na carga horária dos ensinos médio e superior precisa levar em conta a realidade do aluno. Se em casa ele joga, assiste os mais diversos vídeos e pesquisa em segundos sobre qualquer tema utilizando um smartfone, que atrativo ele encontrará na sala de aula com carteiras e quadro-negro?

A professora Lucia Dellagnello, doutora e mestre em educação pela Universidade de Harvard, representou recentemente a América Latina na presidência do júri que escolheu, em Paris, os melhores projetos de tecnologia na educação do Prêmio Unesco, organismo da ONU para educação e cultura.

Ela informa que as pesquisas às quais teve acesso indicam que, para a tecnologia ter um impacto positivo na educação, é importante que seja trabalhada em quatro dimensões: visão clara do objetivo, para que e como vou usar a tecnologia; competência dos professores e gestores no uso daquela tecnologia; qualidade dos conteúdos e recursos educacionais digitais desenvolvidos; e infraestrutura. Considera fundamental, também, que a política educacional seja abrangente e de longo prazo.

E cita uma realidade muito próxima da nossa, na Índia, onde é alta a evasão no que seriam os nossos fundamental 2 e ensino médio. “O jovem faz a escola primária, aprende a ler e escrever, e depois tem muita dificuldade em seguir adiante não só por problemas econômicos, mas também porque, em vilas muito pequenas e distantes dos grandes centros, não existe oferta de ensino médio. Não há quem dê aula de física e química nesses lugares, por exemplo”.

A solução, segundo Lucia, se dá por meio de videoaulas a distância, usando uma parceria com a (universidade americana) MIT no desenvolvimento de tecnologia e laboratórios virtuais. “A medida conseguiu baixar o índice de evasão de jovens oferecendo um conteúdo de muita qualidade”.

No Brasil, segundo reportagem da Folha de São Paulo (Governo Temer quer liberar até 40% do ensino médio a distância – 20/03/18), em torno de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos (14,6% do total) já abandonaram os estudos.

Mesmo assim, ao invés de fazermos nosso dever de casa, vemos entidades respeitáveis e especialistas ignorarem as chances de mudar nossa realidade e pedirem ao ministro Mendonça Filho que impeçam a iniciativa do Conselho Nacional de Educação (CNE) de abrir a possibilidade da utilização da modalidade a distância no ensino médio.

Por que não enxergamos que o problema do Brasil está justamente na falta dos pontos que a professora Lucia indicou: política educacional abrangente e de longo prazo, e não no uso da tecnologia? Enquanto isso, embarcamos em um trem sem volta rumo ao passado: a proibição, restrição ou qualquer outra forma de impedir a discussão de uma solução moderna, que passa necessariamente pela adoção de modelos ligados à educação a distância.

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